quarta-feira, 15 de junho de 2011

Campanha pela Redução das Mortes Maternas gera impactos positivos em Salvador

A ação da Prefeitura Municipal de Salvador ocorre no terceiro ano da parceria com o UNFPA e conta com 35 mobiliários urbanos espalhados pela capital baiana.

Lugares da capital baiana em que milhares de pessoas passam diariamente, como pontos de ônibus, bancas de revista e calçadas foram alguns dos pontos escolhidos como espaços estratégicos para a divulgação da Campanha pela Redução da Mortalidade Materna, realizada pela Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), em parceria com o UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas. A ação, que entra no seu terceiro ano consecutivo, conta agora com 35 mobiliários urbanos instalados em ruas, avenidas e praças, com o intuito de informar a população sobre o problema, que atinge parte das mulheres soteropolitanas.

“A divulgação massiva de informações relevantes, com imagens fortes, tem um impacto positivo que continua nos surpreendendo e atingindo todas as camadas sociais. A imagem e slogan desta campanha são poderosos, despertando a sensibilidade e a curiosidade das pessoas”, afirmou Ruth Pucheta, da Assessora de Relações Internacionais (ARI) da Prefeitura de Salvador.

Ruth destacou ainda a importância do intercâmbio de informações sobre mortalidade materna a partir da imagem da campanha, seja em um cartaz ou numa camiseta. “Policiais, moradores de rua, professoras e professores já se aproximaram para perguntar sobre e questionar as razões de tantas mulheres ainda morrerem por causas relacionadas a gravidez ou parto”, destacou, ressaltando que o “desafio continua sendo informar e impactar cada vez mais pessoas, com uma mensagem acessível a todos e todas”.

Assim como as pessoas que conversaram com Ruth Pucheta, a estudante de comunicação Luana Nogueira ficou curiosa com os dados apresentados nos mobiliários espalhados pela cidade. “Acho essa campanha importante para alertar a população, porque não imaginamos que a violência institucional possa atingir mulheres grávidas. O interessante é que o índice é alto, mas pode ser evitado se tivermos uma população mais consciente e atendimento de qualidade nas unidades de saúde, nos hospitais”, disse a jovem de 21 anos.

Para Anália Cunha Pupo, representante do Ministério da Saúde, a campanha é muito importante porque a sociedade precisa ser informada de que 90% destas mortes podem ser evitadas. “Acho excelente, pois chama a atenção das pessoas”, ressaltou. Anália falou ainda que a ação trabalha em conjunto com os objetivos do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, que propõe a melhoria da atenção obstétrica e neonatal, com participação de gestores do governo federal, estadual e municipal e da população como um todo. O Pacto é considerado pela Organização das Nações Unidas um modelo de mobilização para a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).

Construção coletiva

“As decisões para a melhoria do atendimento às mulheres gestantes têm de ser construídas e pactuadas de forma coletiva. Por exemplo, em acordo com a política nacional de humanização, deve haver acolhimento com classificação de risco; a mulher grávida não pode ser atendida por ordem de chegada, mas sim conforme a complexidade do caso. Essa é uma diretriz que precisa ser compartilhada para que o poder de decisão seja democrático. Mas vale ressaltar que também precisamos priorizar a mudança na lógica burocrática de atendimento. Em Salvador, as maternidades Tsyla Balbino e Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia) já trabalham nesse intuito”.

Analia destacou também que toda a mulher gestante tem o direito de saber em que maternidade o seu bebê vai nascer e ter atenção primária, o que chamamos de vinculação do pré-natal à maternidade. Em Salvador, esse objetivo tem sido reforçado. “Já é Lei Federal desde 2007, mas na capital baiana existe um movimento para que seja Lei Municipal, e inclusive já foi aprovado e está em processo de regulamentação. Tanto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), quanto a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e a Câmara de Vereadores estão trabalhando juntos para que isso ocorra. Só que garantir essa vinculação não é algo simples, porém todos estão juntos nesse objetivo”.

A lei municipal citada é a ‘Maternidade Certa’, de autoria vereadora Aladilce de Souza, que é enfermeira de profissão.“Em Salvador, a situação é grave. As mulheres fazem uma verdadeira via sacra procurando uma maternidade para dar à luz. Quando elas têm alta do pré–natal, são liberadas para procurar uma maternidade e acabam ficando em um momento de fragilidade. É um momento em que precisam de apoio e acabam angustiadas. Isso interfere no parto, que precisa ser humanizado, tranqüilo e seguro. O pré-natal tem de ser vinculado ao parto, para que a mulher saiba com antecedência onde vai ter o filho”, disse vereadora.

Aladilce informou ainda que, apesar da existência da Lei Federal, a Lei Municipal ‘Maternidade Certa’ chega como reforço para a redução das mortes maternas, pois, segundo ela, caso a assistência prestada não seja feita de forma humanizada, pode interferir direta ou indiretamente no número de mortes. “Estamos trabalhando no decreto que regulamenta a lei com a discussão entre servidores municipais da rede básica de pré-natal e os servidores estaduais das maternidades. Posteriormente, divulgaremos amplamente para que a sociedade possa cobrar seus direitos”. A vereadora também ressaltou a importância de um bom atendimento para evitar seqüelas nos bebês, como paralisia cerebral e outros danos que podem ser irreversíveis.

Segundo Izabela Burgos, da Coordenação de Promoção e Atenção à Saúde da Área Técnica de Saúde da Mulher (SMS), em 2010 a capital baiana teve 31 mortes de mulheres grávidas, um dado considerado muito alto e, por isso, a Secretaria está propondo capacitações e treinamentos aos servidores. “Realizamos visitas nas 110 unidades de saúde que oferecem atendimento de pré-natal. Agora só está faltando o distrito do subúrbio ferroviário, onde há 24 unidades. Após esse diagnóstico vamos atuar em loco, com os pontos chaves, distrito a distrito. Assim, poderemos traçar estratégias específicas para cada local conforme suas particularidades e deficiências, como recursos humanos ou fornecimento de materiais”.

Parceiros

A ação tem como públicos prioritários trabalhadoras e trabalhadores das áreas de saúde e educação, a sociedade civil organizada, associações e entidades de classe, movimentos sociais, sindicatos, universidades e a população em geral. A campanha é realizada pela PMS por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e lazer (Secult), Assessoria de Relações Internacionais (ARI), Secretaria da Comunicação (Secom), e apoiada pelo Governo do Estado, por intermédio da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) e da Secretaria de Promoção a Igualdade (Sepromi); movimento de mulheres; Conselho Municipal da Mulher; Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher; Fórum de Mulheres Negras; e o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher. No âmbito nacional, apoiam a campanha o Ministério da Saúde e a Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

Fonte: Midiã Santana

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